quarta-feira, junho 17

NAS ASAS DA ÁGUIA

OU
A ANTEVISÃO DE UMA AVENTURA NO DIA DAS ELEIÇÕES


O plano estava traçado e combinado entre todos. “As estações” e “os apeadeiros” devidamente sinalizados na carta de vôo fariam parte de um aprazível roteiro, muito identificado com os nossos atributos gastronómicos.
Assim, e após nos certificarmos de que tudo estava em ordem através de um exaustivo “check up” à “aeronave”, iniciámos os procedimentos para o seu arranque. Um toque suave no seu corpo e no seu bico, um afago na sua sedosa penugem trauteando o célebre hino do clube que a imortalizou como seu símbolo universal, e aí estava ela aerodinâmicamente pronta para mais um vôo glorioso.
A descolagem do “aguiódromo” Gonçalves Lobato, a cinco quilómetros do meu burgo, foi impecável, e depressa atingimos a velocidade de cruzeiro.
A Águia encontrava-se em plena forma, e nas suas asas seguia um grupo de indefectíveis Gloriosos, prontos para mais uma aventura em nome do Benfica.
Avançávamos para sul com o sol quase a pino. Aproximava-se a primeira escala gastronómica. Após um voo rasante anunciando a nossa presença, seguiu-se uma aterragem suave e espectacular. Um bacorinho estaladiço e super apetitoso, regado e temperado com aquela molhanga apimentada única, aguardava num régio recanto, algures em terras bairradinas, pela nossa triunfal chegada. Esta obra de arte deste “ecossistema” gastronómico, levada e trinchada pelas mãos delicadas de uma encantadora dama, após fumegante saída de um forno de lenha à antiga, tostada e acompanhada daquele fresco néctar espumante meio seco, cuidadosamente maturado nas catacumbas de umas velhas caves de nomeada, foram sem dúvida um bálsamo inigualável para darmos continuidade à nossa incrível viagem.
À saída, ainda nos deparámos com uma grunhidora fila de torpes candidatos a esse “ecossistema”, que quando viram a imponente Ave Vermelha, roncaram até à exaustão pela profissão de suas mães. Uma espécie de um ramo divergente e corrupto da raça porcina, nada e criada em “Palermo”, que por mais truques culinários de falsos cozinheiros e trapaceiros, é tão intragável, que até as populações deslocadas, subnutridas e esfomeadas do Darfur a rejeitam como alimento básico. Lançámos o nosso grito do Ipiranga – SLB, SLB, SLB, Glorioso SLB, Glorioso SLB! Benfica! Benfica! Benfica! - e descolámos para mais uma etapa.
Ainda na fase ascensional, começámos a observar, vinda de norte, uma outra aeronave, neste caso, um avião mesmo, que quando se apercebeu da nossa presença nos ares, começou aos solavancos e em bruscos movimentos para cima e para baixo. Os porcinos corruptos, penetras de “Palermo” que entraram à socapa no porão do avião, ao farejarem a Ave começaram a roncar e mesmo a escoicinhar. O comandante alterou a pressão no porão, a anestesia resultou e a pocilga de última hora virou dormitório. Estranhámos toda aquela agitação, mas poucos momentos depois, o avião recomposto do susto, já voava muito perto de nós e com a particularidade de pelas suas janelas, começarmos a ser curiosamente observados por muitas pessoas de bloco de apontamentos e caneta na mão, algumas com máquinas fotográficas, muito espantadas.
E não era para menos. A Águia Vitória, pujante, para além do seu sempre formidável vôo, “transportava” também uns quantos anónimos indefectíveis que erguendo os braços, com ambas as mãos e no meio de toda aquela turbulência faziam com vigor e determinação o V de e da Vitória.
- Ah! – exclamou um dos nossos, identificando a sigla “à americana” na fuselagem da outra aeronave – é o avião fretado pelo “BC” que vai para a capital. Leva “músicos” do Benfica e aquela cambada de “jornaleiros” e “cúmentadeiros” incorrigíveis.
- “Músicos”? – perguntou o “Tacuara de Lobelhe” – …conheço o Orfeão do Benfica que prima por excelentes desempenhos, mas músicos ou orquestra não sabia, não…
- Ó “Tacuara”, quem lá vai dentro são os habituais do “bota-abaixo”.
Papagaios, ratazanas, notáveis e “democratas de pacotilha”. Percebeste agora? – dizia o “Red d’Aguieira”, pequeno em estatura, mas com um grande, grande coração Benfiquista.
- Então, olha lá, e “BC”, o que é isso? – perguntava ele, ainda admirado.
- Olha, é…é… - balbuciava já enfastiado, o “Devil Papandrades”.
- É “bota corruptos”! – exclamou outra vez o “Red”. E continuando explicou:
- Ali, vão, os “bota-abaixo", os “bota ó bolso”os “bota faladura”, os “bota letras” e o “bota corruptos”! Tudo reles farelo da mesma saca!
- Naaaaaah! Aquilo quer dizer, “bibá corrupção!”, “bibá corja!” ou “bebam cafèzinhos” – dizia, rindo-se, o “Diabo de Gaia”.
- É mas é “belo cachaço”, pois se não fosse isso, aquele golo de cabeça do Cardozo na Luz contra a corja, não tinha sido validado, não… – picava o “Red”.
- Olha, BC, é mas é, “bai c’o carvalho”, pois com aquela gente que ali vai dentro não quero nada, percebeste, ó “Red”? – dizia o “Diabo” já agastado com a analogia.
Entrementes, apercebemo-nos de uma manobra de aproximação à Vitória, e num repente, o “cockpit” do avião já estava bem pertinho do seu bico. Foi a altura em que pudemos observar que na frente do avião, para além dos dois pilotos, se encontravam lá dois passageiros. Um gesticulando, fazendo o V de vitória, apontando para ele próprio e empunhando uma tabuleta que dizia - “buota BC, director do PC”. O outro era o “Figueiredo da Linha”, do tempo das exorbitantes facturas de charutos debitadas escandalosamente nas contas do Glorioso, do tempo das capelinhas e das perniciosas vaidades loucas de uma das nossas piores direcções e de um dos nossos piores presidentes.
- Coooomo? – perguntou o “Tacuara de Lobelhe”, ao ter aquela visão aérea, já irritado com o “filme”.
- É o amigo do “Giorgio” e da “Filó” e sua mais recente e anedótica aquisição. O que ele quer dizer com a tabuleta é que é o director do Palermo Canal, tem lá calma! – explicava o “Red”.
- Botemo-lo abaixo, botemo-lo já abaixo! – exclamava furibundo o “Tacuara de Lobelhe”, já com a esquerda apontada para a fuselagem da aeronave.
Nisto, num ápice, aparece na crista da Águia, outro dos nossos. Um adepto orelhudo e bigodaço a rir-se e a fazer-lhe o V com as duas mãos. Sem se deter, agarrou no megafone, pois o ruído dos motores era ensurdecedor e perguntou ao da tabuleta:
- Andaste-te a bater ao cargo de director da Benfica TV, não foi? Querias tacho, não era? Pois para esse peditório já dei…e há muito tempo! Já me estás a fazer lembrar o Camelo Lorênzo. Vais pelo melhor caminho, vais…toma óleo de rícino que desintoxica, faz-te bem à tripa e limpa-te essa tolinha!
O da tabuleta, estarrecido com aquelas palavras, agarrou-se ao Figueiredo da Linha e pediu um pára-quedas. Faltava-lhe esse apetrecho para amenizar o tombo e para confirmar os seus verdadeiros atributos de “pára-quedista” treinado em “Palermo”.
O avião estremeceu e por momentos a cabine despressurizou. O passageiro da tabuleta, azul de susto, quase sem ar, correu a apertar o cinto de segurança, as máscaras de oxigénio caíram do tecto e os LCD’s baixaram novamente. Nos seus visores apareceram dois grandes V’s. Logo a seguir as palavras de ordem – “Vota Vieira”.
Um ohhhhhhhhhhhh! misturado de espanto e azedume atravessou a cabine da cauda ao nariz da aeronave, mas paradoxalmente, o vôo logo voltou à normalidade.
Logo a seguir, o avião fez um reverente “looping” de saudação à Águia, e em ligeira inclinação deu meia volta apertada tomando o rumo do seu ponto de partida – Pedras Rubras.
Nessa viagem atribulada de um condicionado regresso, o comandante do avião ainda teve oportunidade de dizer aos famigerados “jornaleiros, músicos e quejandos” que estaria no aeroporto um autocarro, modelo antigo e sem ar condicionado, que sem paragens, faria de novo o trajecto “Palermo” – Lisboa. Só passariam no hipermercado mais próximo para atestar de gasóleo “linha branca” e apanhar o Azelha que já esperava sentado.
Os fundos de maneio para mais querosene tinham acabado, fazendo lembrar aquele ridículo e “beato” apelo para contribuições e oferendas, com “NIB” e tudo, numa tentativa pacóvia de dar visibilidade a mais um pateta-fantoche telecomandado pelo capo de “Palermo”, “Giorgio” e pelo “Murdoch de Penafiel”, o dono, nos “media”, do império “Olibeirêdo Control”.
E Nós?
Nós, bem, seguimos até à Luz, já sem escalas, pois devido a este contratempo já se fazia tarde para votar e na volta lá nos esperaria, nas margens do Mondego, e num primeiro andar sem “varandas”, uma valente “lampreiada à bordalesa” acompanhada “à guitarra” por um “tinto bruto” para comemorar.
Na Luz, Juan Barnabé ainda nos perguntou como tinha decorrido o vôo.
- Excelente! – dissemos Nós – melhor, incomparàvelmente melhor do que viajar num Airbus conspurcado e com o horrível resquício do fedor corrupto de “Palermo”!


GRÃO VASCO