quarta-feira, abril 28

Esquisso de Maria Domingas "A Chorona"

Nada e criada em Palermo, Maria Domingas de sua graça, cedo despertou para a vida. Após anos sob a tutória do padrasto Giorgio di Bufa juntou os trapinhos com um trolha luso-italiano de nome Tony Salvatore e foi morar lá para os lados de Braga. O seu lar actual é numa pedreira cujo túnel de acesso é um caminho ínvio e bem perigoso para quem por lá passa ou mesmo para aqueles que a visitam.
Domingas, carinha laroca, aparenta fino trato. Puro engano. É mais venenosa e pérfida que o seu companheiro Salvatore. Uma víbora listada de azul e branco sob um manto vermelho arsenalista. Chorona e mamona, vai enchendo a blusa à custa de muitas artimanhas aprendidas na primária, em Palermo, nos tempos do professor Hernâni “O Gargalhadas”, conhecido por mandar bitaites a torto e a direito. Ela assim o tem feito, coagindo apitos sem fim.
Fazendo-se sonsa, põe disfarçadamente os olhos no chão quando lhe convém, mas tendo sempre um no burro e outro no cigano -truque praticado nos estágios efectuados em Leiria e em Coimbra.
Por sua vez, o trolha satisfaz-lhe os seus caprichos com a conivência descuidada de seu padrasto. Religiosa por afinidade, continua a dizer, “se mesquita é vaca sagrada, então eu sou uma beata”, ou mesmo, “se Domingas não vai a mesquita, mesquita vem a Domingas”, – dichotes mixordeiros e promíscuos mas que em determinada altura resultaram quase em pleno.
Durante os últimos dois meses, Domingas, desejando sempre a desgraça alheia, rogou pragas, pediu derrotas, acalentando a secreta esperança de que alguém que ela odeia profundamente escorregasse na íngreme calçada do ceptro máximo. Desesperada, fez uma espertalhufa analogia e até já disse que “o Deportivo da Coruña perdeu um campeonato no último minuto”.
Como até agora não conseguiu alcançar aquilo que queria, virou a agulha, não para destacar os seus méritos - que na verdade lhe foram oferecidos em tempos por Jesus, esse sim o verdadeiro salvador – mas sim para, de língua sempre afiada tentar mamar em prejuízo alheio.
Certo, certo, é que o padrasto, perante esta história, tem franzido o sobrolho e dito veladamente que cinco pontos significam um rasgão grande mas ainda a tempo de poder ser remendado. Domingas faz o seu papel e como “boa filha à casa torna”, o seu destino mais tarde ou mais cedo, será novamente Palermo. Salvatore já mostrou algum azedume, mas os convites de Giorgio para os saraus da Pocilga deixam-no algo comprometido.
Faltam duas semanas para o desenlace.
- A ver vamos… - como cautelosamente diz o tio Filipe da capital.

GRÃO VASCO